Como
Clésia, Mizac conceitua a Proposta Triangular relacionando-a com certas ações:
“não sei até onde eu consigo compreender, com exatidão, o que é a Proposta
Triangular. Mas o que eu diria [...] é isso: que ela tem três eixos e que não
necessariamente [são trabalhados] na ordem: o ver, o sentir e o fazer”. Para
ele, a proposta é uma maneira de fechar e aparar arestas; só mostrar os
artistas “[...] não funciona. [...] não pode chegar só com a imagem, só para [o
aluno] sentir”. Ele acredita que comentar a obra e o artista facilitará ao
aluno uma compreensão mais precisa dos múltiplos sentidos que a obra pode ter e
que isso pode instigar mais seu interesse pela disciplina. Ele justifica o uso que faz da Proposta
Triangular assim:
Arte não é uma coisa solta. [...] o ver, o sentir e o fazer [...] acontece
meio que junto. É lógico que o fazer tem que vir depois. Você perde se não
sensibilizar o aluno para que ele realmente venha a se interessar mesmo.
[...] Eu sigo isso [...] porque acho que é por aí que funciona.
Da
Quanto à prática de aulas
teóricas, argumenta ele:
[...] às vezes, eu tenho deixado
o fazer de lado. Eu ponho os alunos para produzir, mas me cansa a produção à
toa, aquela produção banal, aquela coisa mecânica, onde a diretora da escola
vai querer pendurar; de repente, vai ser um trabalho que não vai ter aquele
acabamento estético, clássico, que não pode ter deformação, distorção.
A temática dos projetos
de Mizac parece ser quase toda baseada na arte contemporânea ou no dia-a-dia do
aluno: “Meu trabalho é muito aluno”. Ele diz que acha importante explorar o presente:
Aconteceu, por exemplo, um monte de coisas, uma
explosão, o mensalão... [Então], quando eu estou trabalhando com história da
arte, eu sempre trago para o agora, para o dia de hoje. [Se] estou trabalhando com Grécia, aquele monte
de coisas sobre o poder, [não faz sentido] se não fizer relações.
Barbosa
(2002b)
Várias vezes, Mizac
mencionou sua preocupação com o modo de aluno ver a arte e o ensino da arte,
assim como sua vontade de interferir.
[...] infelizmente, ainda estão
muito presos no sistema mecânico, quadro e giz. O aluno vê mecanicamente a aula
e também mecanicamente a arte. Para ele, o cotidiano não é arte. Não consegue
ver que isso [o cotidiano] é arte,
que a arte pode ser produzida a partir da realidade.
figura 16. Mizac e um
aluno à procura de imagens
Fonte: acervo de Cátia Queirós.
figura 17. Alunas de Mizac folheiam revistas
Fonte: acervo de Cátia Queirós.
figura 18. Colagens/montagens com panfletos de propaganda
eleitoral
Fonte: acervo de Luciano Carvalho.
figura 19. Ampliação feita por alunos de Mizac
Fonte:
acervo de Luciano Carvalho.
Mizac afirmou que “não
quis ficar falando de muito movimento”, isto é, entrar na história da arte. Mas
comentou com os alunos a maneira expressionista de trabalhar — alterando as
formas e as cores — e que deve ter mostrado imagens artísticas. “Eu vivo
recortando, eu levo reproduções de artistas, imagens de jornal, propaganda,
imagens do dia-a-dia; eu pego propaganda na rua, fotografia, trabalho meu”.
Depois arremata: “Esse negócio de Proposta Triangular, eu acho que sigo mais ou
menos assim: é como se fosse um tripé de câmara fotográfica. Depende do
terreno, da situação: você precisa descer um lado mais, encurtar o outro... Mas
a gente sempre usa os três lados”.
Dentre os/as
entrevistados/as, apenas Tininha teve dificuldade em conceituar a Proposta
Triangular. Disse que “conhecia um pouquinho”. Depois de incentivá-la a
responder, ela prosseguiu: “Não tenho certeza [...] Seria a parte humana, a
parte teórica... É a parte de passar o ensino, de humano mesmo”; para então perguntar:
“Mas eu estou dentro?”. Na continuidade da conversa e em visita posterior a ela
no local onde trabalha, pude ver como desenvolve sua ação docente e como prioriza
o trabalho com imagens de obras de arte. Tininha conhece o termo releitura e
diz desenvolver essa prática com as crianças. Mas em momento algum diz que usa a
Proposta Triangular no ensino de arte.
[1]
Santinhos é a designação
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