30 de agosto de 2015

Segundo encontro – conhecendo o céu

Segundo encontro
Técnica aplicada: colagem em papel circular - foto e EVA
Objetivo: proporcionar auto imagem e elaboração da primeira mandala
Material: foto dos participantes, papel cartão cortado em círculo, cola, pedaços de EVA

Descrição: Após canto de músicas de repertório infantil, realização de colagem com foto em papel circular e enfeite com pedacinhos de EVA.
Comentário: Notou-se grande dificuldade de manusear materiais artísticos, mas notou-se vontade de tentar realizar o solicitado.



Detalhamento:
A varanda foi arrumada com as poltronas, cadeiras e sofás em círculo. Desta vez tinham 8 participantes próximos, dois sentados “amarrados” mais distantes e uma andando sem interagir. As cuidadoras fecharam a porta da varanda, talvez para evitar que os idosos saíssem dali.
Iniciou-se uma conversa sobre músicas do tempo de criança. A música “Alecrim” foi ouvida e depois cantada por eles.
Senhora Vermelha se emocionou muito e até chorou. Poucos conheciam a música, mas gostaram de ouvir e cantaram um pouco. Outra música foi colocada: “O cravo brigou com a rosa”. Todos gostaram e também cantaram. Conversou-se sobre outras músicas e a participação começou.
Cantou-se em coro: “Bota aqui seu pezinho”, “Ciranda cirandinha”, “Jardineira”. Um participante após outro foi sugerindo uma música. E todos cantavam. Até Rosa que dizia não saber nenhuma música se manifestou e sugeriu uma canção.




Uma participante lembrou que naquele dia o passarinho (beija flor) não havia aparecido – choveu o dia todo. Então mostrou-se a caixinha com, na tampa, um beija flor. Pediu-se que cada um dos participantes pegassem de dentro da caixinha uma fotografia, a sua fotografia.
“– É, sou eu!” Diziam os participantes ao encontrar sua foto.
Apenas Dona Verde não gostou de sua foto. – “Estou muito feia”.
Para os que não haviam participado da vez anterior foram oferecidas flores recortadas e eles escolheram uma para si. Pressentindo que não iriam se levantar para dirigir-se até a mesa para fazer a atividade plástica, foi distribuído a cada um, ali mesmo, um papel cartão cortado na forma circular.
Explicou-se a proposta de colagem da sua foto e de pedacinhos de E.V.A. A dificuldade de locomoção dos participantes fez com que, primeiramente, se passasse cola na foto de cada um deles. Mesmo com a sugestão de que eles colassem a fotografia no lugar onde quisessem no papel circular, vários colaram ao centro do papel. Durante a confecção da colagem ouvia-se músicas bem suaves.
Pedacinhos de E.V.A. previamente cortados foram distribuídos para “enfeitar” o papel em círculo. Os recortes estavam em uma caixinha de madeira, numa cadeira no centro da “roda”. Senhora Azul pegou vários pedacinhos, à vontade. Outros participantes nem sequer escolheram as cores dos retalhos de E.V.A. Alguns foram logo colando na extensão de toda lateral do círculo outros em apenas alguns lugares.



Senhora Vermelha resolveu passar o dedo na cola e retirou toda a cola do círculo. Após a insistência de que ela colasse algum pedacinho de E.V.A., ela pegou três bolinhas vermelhas apenas e colou perto de sua foto. Dona Verde não gostou de sua foto. Reclamou novamente que ela estava feia. Queria colar uma flor ou outra imagem qualquer. Foi dada a ela uma caixa com pequenas imagens e ela escolheu a imagem de um cavalo. Depois disso ela enfeitou seu círculo com alguns pedaços de E.V.A.
Após este trabalho conversou-se um pouco sobre coisas boas e bonitas. Cada um falou uma palavra. Alguém lembrou-se da mãe e todos falaram o nome de suas mães.
Já no final, quando todos já haviam feito a colagem, uma música com sons de passarinhos tocou e Senhora Vermelha falou: “-- Ele veio!” Pensando que fosse o “nosso beija flor”.
Rosa falou – “É mesmo, mas é do aparelho!”
O trabalho foi finalizado com a pergunta de que música gostariam de ouvir da próxima vez. Sr. Amarelo pediu um tango.
Dona Verde pediu músicas de Carlos Gardel.

25 de agosto de 2015

Primeiro encontro - nem sol nem chuva

Primeiro encontro – nem chuva nem sol

Técnica aplicada: caixa do beija flor e colagem
Objetivo: conhecer os participantes e dar a eles oportunidade de se sentirem bem
Material: caixa com dobraduras de coração, gravuras de flores, cola, caneta hidrocor
Descrição:
Conversa sobre o que significa quando um beija flor entrava em casa. Retirada da caixa “beija flor” um coração de dobradura e oferta a cada interno. Escrita do nome de cada pessoa em folha de papel e solicitação que escolhessem uma flor para colar ao lado de seu nome.
Comentário: O trabalho serviu como aproximação aos internos



Detalhamento:

Os idosos encontravam-se sentados em sofás, cadeiras ou poltronas na varanda da instituição (alguns amarrados).
Havia no local uma grande mesa com cadeiras.
Iniciou-se perguntando se eles já tinham ouvido dizer o que significava quando um beija flor entra em nossa casa.
O acreditado aqui era que as oficinas de arteterapia trouxessem o prazer da alegria (em muitos lugares a presença do beija flor significa alegria).
Retirou-se de uma caixinha com um beija flor estampado na tampa um coração de dobradura que foi dado a cada interno da casa.

Então ouviu-se vários comentários:
– Aqui sempre vem beija flor!
– Eu gosto de beija flor!




Depois de ser perguntado a cada um o nome escreveu-se o mesmo em uma folha de papel.
A impressão era de que gostaram de ler seu nome ali.
Comentou-se que para que o beija flor viesse sempre até eles era bom ter sempre flores.
Mostrou-se algumas imagens de flores que em seguida foram nomeadas em várias tentativas: rosa, cravo, beijo, margarida, orquídea...



Sugeriu-se que se sentassem à mesa para que colassem flores perto do nome, na folha de papel.
Porém os idosos entreolharam-se e não se moveram. Sentados nos sofás permaneceram.
Com um pouco de insistência conseguiu-se que alguns dos participantes se sentassem à mesa, mas ao som de afirmativas de que não sabiam, que não conseguiam fazer nada e que as mãos eram muito tremulas.
Afirmou-se que seriam auxiliados, que eles escolheriam as flores e seriam ajudados com a colagem.
Foi mostrado que também havia lápis de cor e se quisessem, poderiam colorir.



Enquanto isso, várias tentativas de conversa foram feitas: quem havia escolhido o seu nome (pai, mãe, avó), quem eram os irmãos, filhos e sobrinhos.
Neste momento foram colocadas músicas do artista Altamiro Carrilho e alguns até cantaram.
No final do trabalho escutou-se o comentário:
“aqui é muito parado, é bom para a gente ter o que fazer”.

20 de agosto de 2015

Descrevendo as técnicas de arteterapia: caminhos do arco íris

Descrevendo as técnicas de arteterapia: caminhos do arco íris

O arco celeste, ou arco da chuva, enfim o arco íris é um caminho colorido no céu. A estrada se faz quando restam algumas gotinhas de chuva e o sol surgiu novamente. O mais emocionante é que o arco-íris aparece quando metade do céu ainda está escuro e com nuvens de chuva e o observador está em um local com céu claro.
Assim é o caminho da arteterapia, parece mágica!

O local do trabalho arteterapeutico - espaço entre chuvas e sol

Arteterapia não é passatempo e nem aula de arte. Fazer arte por si só não é um processo terapêutico. É difícil as pessoas entenderem que arteterapia não é terapia ocupacional.
Foi com o objetivo de realizar um trabalho arteterapeutico que procurei o Hotel Geriátrico. Acabei conhecendo a instituição por ter uma tia que utilizou momentaneamente os cuidados da enfermagem daquele local.

O Hotel Geriátrico é uma casa com vários quartos, duas amplas salas, uma varanda e outras dependências. Instalada em um bairro residencial tem um aspecto externo de uma casa de família.

Na casa hospedam-se mais de 10 pessoas, todas com algum tipo de demência senil, atendidos por uma enfermeira e cuidadoras. Os internos têm cuidados com a higiene pessoal e alimentação regular, porém não possuem outra assistência a saúde mental.

Quando propus à dona da casa o desenvolvimento do trabalho de arteterapia, ela esboçou um sorriso concordou com o “passa tempo aos velhinhos”. Senti que não ia adiantar explicar a diferença de arteterapia e terapia ocupacional e a convidei a participar para “entender” o processo. Muito ocupada não conseguiu participar nenhuma vez.

Meu trabalho com os idosos iniciou com os objetivos de apresentar a proposta da arteterapia, conhecer os participantes, dar a eles oportunidade de expressão e propiciar o vínculo entre eles.

Nos primeiros encontros fui tomando consciência da limitação dos idosos e fui adaptando as atividades. As mãos tremulas dos internos e sua própria descrença da capacidade de produzir algo foi um grande desafio para mim.

Depois percebi que a música podia ser uma grande aliada ao trabalho e utilizei a música para busca de prazer, estímulo à expressão artística e memória, estímulo motor e também como uma forma de relaxamento.

Descrevo aqui os oito encontros que me foram permitidos com os idosos internos na instituição.


Minha monografia do curso de Arteterapia

Estarei publicando aqui, por partes, um capitulo de minha monografia do curso de Pós Graduação em Arteterapia.
O capitulo é o relato de minhas experiencias com estágio em Hotel Geriátrico na cidade de Uberaba.
Neste capitulo comparo cada seção do estágio ao tempo, chuva, sol e o nascer de uma arco-íris.
Foi uma forma poética que consegui ver meu encontro com os idosos internos!