3.2.1
Personagens
principais
Como o perfil
dos alunos do cesube parece compor
uma situação ímpar
— a quase-metade dos estudantes
matriculados no curso de Educação Artística/Artes Visuais já atuar no magistério —, esta investigação
focou as concepções e práticas de estudantes-professores/as sobre a Proposta
Triangular para o ensino de arte. Os sujeitos da pesquisa
são quatro
estudantes da licenciatura
em Educação Artística/Artes
Visuais do cesube, matriculados em diferentes turmas e selecionados
porque já
atuam na docência de Arte.
Dentre eles,
uma estudante-professora tem outra formação universitária:
licenciatura em
História. Todos
os entrevistados têm idade superior a 32 anos
e experiência com
o ensino de arte
de, no mínimo, 24 meses — embora o tempo de atuação
no magistério oscile entre 7 e 25 anos. Como
critério de seleção
dos sujeitos da pesquisa,
considerei os níveis de ensino: selecionei uma estudante
que atua na educação
infantil — Tininha; outra,
no ensino fundamental
— Raquel; um que
leciona no ensino médio
— Mizac; outra que
trabalha no ensino
não formal[1]
— Clésia.[2]
As entrevistas
foram feitas conforme
roteiro (apêndice a) formulado
previamente, que orientou o diálogo. Após a primeira entrevista, eu o reavaliei e fiz modificações para
adequá-lo mais aos objetivos
da pesquisa (cf. apêndice b). As perguntas
foram elaboradas segundo a dinâmica da conversa e de modo a dar liberdade para falarem, por isso
diferem um pouco
de entrevistado/a para entrevistado/a. A maioria das entrevistas
ocorreu nas residências dos/as
entrevistados/as. Embora eu os/as
encontre quase todo
dia em
corredores ou
salas de aula
da faculdade, pensei que
no ambiente extra-acadêmico poderiam se expor com mais naturalidade.
Essa escolha se mostrou importante. Senti que
os/as entrevistados/as ficaram à vontade
nas entrevistas: não
houve constrangimento por
causa do gravador
e sempre procuravam, em meio à resposta, apresentar fotografias de seu
trabalho.
O primeiro
entrevistado foi Mizac. Ansioso no primeiro encontro, na
segunda entrevista
me convidou para
irmos ao barzinho da esquina, onde conversamos mais
“informalmente” sobre
seu trabalho em sala de aula; talvez para se sentir mais seguro, ele tenha levado
seu caderno
de anotações — segundo ele, seu “diário de aulas”.
A seguir, entrevistei Raquel, que
me recebeu em
sua residência
com chá
e biscoitos à mesa;
e então Tininha, que
me recebeu com
uma mesa cheia
de fotografia. Aliás,
fotografias ilustraram, também, a entrevista seguinte, com
Clésia: ela trouxe duas pastas cheias
delas e de relatórios diários que
registram seu trabalho.
A princípio,
investiguei o motivo para
buscarem a formação universitária
na licenciatura em
Artes Visuais,
pois já
atuavam como profissionais.
Preocupei-me em saber
se tiveram contato com
a Proposta Triangular
antes de ingressarem no curso de graduação
e que conhecimentos
tinham dela; e também conhecer
suas concepções
sobre a Proposta
Triangular, como
a praticavam. Essa entrevista destacou a leitura de imagens
no ensino de arte:
procurei saber se levavam imagens
para a sala
de aula, que
tipo e como
trabalhavam com elas.
Pelas entrevistas, pude conhecer
mais o universo
cultural dos estudantes-professores/as, quais
eram suas escolhas
curriculares e como as justificavam. Nas
entrevistas, todos
se preocuparam em me
mostrar fotografias
do processo de trabalho desenvolvido ou
da produção dos alunos
resultante de projetos
afins a esse
processo.
Dentre os/as estudantes-professores/as do grupo selecionado,
Raquel é a mais velha
(45 anos) e tem a maior
experiência de atuação
no magistério: 25 anos;
trabalha como
professora de arte há três;
ainda coordena cursos
de “educação em
valores humanos”[3]
e dá assessoria educacional
numa creche de Campinas
(sp). Solteira,
nas entrevistas comentou que lê muito — jornais,
revistas e livros
—, assiste à tevê esporadicamente e gosta de freqüentar espetáculos de teatro
e shows:
Vou a espetáculos de teatro,
sempre que a agenda cultural da cidade traz boas peças. A última a que assisti
foi com a Irene Ravache. A expressão verbal com a corporal foi de uma harmonia ímpar.
Assisto a shows quando vou a São Paulo, no mínimo duas vezes por ano.
Raquel afirma, ainda, que procura
estar atualizada quanto à produção cultural; frisa que sua educação artística começou
em casa, com os pais: “Muita música saindo do violão e da voz de meu pai e
muita pintura, artesanato e bordados saindo das mãos da mamãe”.
Tininha tem 41 anos; do grupo aqui considerado, é a mais
nova no curso
de Educação Artística/Artes Visuais: está
na segunda série.
Também solteira,
mora com
os pais, em
Uberaba, há sete anos.
Fez magistério na capital
paulista, onde
morou. Mostrou ser uma pessoa
dinâmica: na entrevista,
disse que lê
todo tipo
de literatura; disse, ainda,
que assiste a muitos
filmes em
dvd (cerca
de dez por
semana) e vai a São
Paulo, ao menos, cinco
vezes ao ano
— quando freqüenta exposições
de arte. Leciona na educação
infantil e no ensino
fundamental; e já
atuou em várias áreas
das linguagens artísticas: artes plásticas,
artesanato, dança,
música (toca flauta) e teatro; também escreve poemas.
Comenta que doa sua
pintura ou
seu artesanato
a diversas pessoas: “Minha produção artística nunca
fica comigo”. Quando
morou em
São Paulo, estudou dança numa academia
que privilegiava danças
folclóricas russas. Diz ela: “Já fiz muitas coisas
das quais gostava. Dança
eu adorei; foi minha
paixão. Eu
fiz folclore russo na academia e, por
isso, não
fiz faculdade em
São Paulo. Decidi-me pela dança”.
Clésia é casada, tem 35 anos
de idade e duas filhas. Morou numa pequena cidade vizinha a Uberaba, na zona rural, até os
18. Com experiência
de 12 anos como
professora, é educadora do Centro
Municipal de Educação Avançada (cemea), espaço alternativo
para crianças
e adolescentes mantido pela prefeitura.
Como tinha
habilidades artísticas e afinidades com artes, conseguiu ser
contratada para executar atividades educacionais
artísticas no ensino informal, mesmo
sem habilitação
em artes.
Afirma que lê
pouco — “tem que
ter tempo para ler” — e o que lê é
direcionado: notícias culturais, de arte ou auto-ajuda. Não costuma ir ao cinema, mas já foi a espetáculos
de teatro ou
dança quando
eram atividades da licenciatura.
Disse que costuma ir
com freqüência
a exposições de artes
plásticas na cidade:
“Vou toda semana.
Ontem mesmo
fui na exposição do Cleófas”. Na entrevista,
afirmou conhecer a produção
de artistas nacionais
e estrangeiros e que
se identifica com obras
de Picasso, artes pré-colombianas,
africanas e indígenas. Sobre sua produção artística,
relatou:
Faço de tudo um pouco. Gosto
muito de desenho. Mas eu comecei minha produção artística mesmo foi em 1998, com o cimento, que aprendi no curso do
cefor. Também
sou associada à Casa do Artesão. Sabe que já vendi sete trabalhos meus?
Mizac tem 34 anos, é solteiro
e dá aulas de arte
há dois anos,
no ensino regular.
Já ministrou oficinas
de arte antes
de atuar na educação
formal e produz peças
artísticas. Em seus
trabalhos, ele
diz que explora a irreverência
e que se identifica com
a arte do francês
Marcel Duchamp. Sua produção
lhe rendeu convites
de secretarias de Educação
e associações de artesãos
para ministrar oficinas. Foi assim
que iniciou sua
prática educativa.
Afirmou ter trabalhado por
seis anos
com escultura
em pedra-sabão
e outros tipos,
bem como ter exposto várias vezes — esculturas,
fotografias e outros
de seus trabalhos
— na Fundação Cultural de Uberaba e em pequenas galerias de Uberaba e Peirópolis. Participa de cursos oferecidos pela
fundação cultural, é membro do Conselho
Municipal de Políticas Culturais, no
qual representa a área de arte
e educação.
Diferentes
formas de ensino
são classificadas na literatura
como: educação
formal, educação
não formal
e educação informal.
“A educação formal
pode ser resumida como
aquela que está presente
no ensino escolar
institucionalizado, cronologicamente gradual
e hierarquicamente estruturado, e a informal
como aquela na qual
qualquer pessoa
adquire e acumula conhecimentos, através de experiência
diária em
casa, no trabalho
e no lazer. A educação
não-formal, porém, define-se como qualquer tentativa educacional
organizada e sistemática que, normalmente,
se realiza fora dos quadros
do sistema formal
de ensino.” (bianconi; caruso, 2005, p. 20).
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