17 de maio de 2022

Cultura e Educação

 1  CULTURA E EDUCAÇÃO

 

 

 

Neste capítulo, exploro o conceito de cultura e seus vínculos com a educaçãotomada aqui como algo que se processa não na escola, mas também na comunidade e noutros espaços e contextos. Por muito tempo, no conceito de cultura imperou a idéia do determinismo geográfico: o ambiente físico condiciona a diversidade cultural. Atribuíam-se as diferenças comportamentais observadas entre os povos a diferenças geográficas: povos habitantes do hemisfério norte se comportam diferentemente de povos do hemisfério sul em razão de características regionais: um esquimó é capaz de distinguir tonalidades de branco que os habitantes de uma região das savanas africanas seriam incapazes de perceber.

Popularizadas por geógrafos, essas teorias começaram a ser refutadas nos anos de 1920. Antropólogos mostraram que havia limites à influência geográfica sobre fatores culturais. Roque de Barros Laraia afirma que “[...] é possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico” (2001, p. 21) e mostra que, mesmo vivendo em ambientes semelhantes no norte do planeta, sob um rigoroso inverno, esquimós e lapões têm comportamentos culturais diferentes: aqueles constroem casas de gelo (os iglus), estes constroem tendas com peles; quando querem se mudar, os primeiros abandonam o iglu, os últimos transportam sua moradia para o local a ser habitado.

Outra explicação para as diferenças culturais é a que relaciona capacidades específicas a certasraçasou certos grupos humanos. Fundado no determinismo biológico, tal entendimento atribui capacidades e habilidades próprias de alguns seres humanos à sua origem genética. Nessa ótica, acredita-se que os brasileiros herdaram a preguiça dos índios e a esperteza dos negros. Pensamentos assim se traduzem em atitudes discriminatórias contra certos grupos por causa de características étnicas. Pode-se pensar aqui no aumento da xenofobia e na exclusão social em algumas sociedades por causa das migrações internacionais, que geraram o surgimento de minorias.

A antropologia atual explica as diferenças culturais com base no conceito de endoculturação: processo de socialização e aprendizagem da cultura ao longo da vida. Nesses termos, qualquer pessoa pode adquirir hábitos culturais próprios do grupo social a que pertence; por exemplo, uma pessoa nascida no Brasil mas criada na Inglaterra assimilará hábitos, linguagem, crenças e valores dos ingleses. Dito de outro modo, as pessoas se comportam diferentemente não por causa de transmissão genética ou do espaço geográfico onde vivem, mas sim por terem tido diferentes condições de educação. Assim, educação e cultura explicam, em grande parte, as diferenças comportamentais entre os humanos. Pela educação, os indivíduos assimilam diferentes elementos da cultura e passam a agir segundo esta.

Como esclarece Laraia (2001), vem de Edward Burnett Tylor (1832–1917) a primeira definição de cultura que se aproxima do conceito empregado hoje: cultura é “[...] todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (tylor, 1871 apud laraia, 2001, p. 25). Tylor enfatiza a idéia de aprendizado na sua definição de cultura, mostrando-a como todo comportamento aprendido, adquirido; tudo que independe da transmissão hereditária.

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