1 CULTURA E
EDUCAÇÃO
Neste capítulo,
exploro o conceito de cultura e seus vínculos com a educação — tomada
aqui como
algo que
se processa não
só na escola,
mas também
na comunidade e noutros espaços e contextos.
Por muito
tempo, no conceito
de cultura imperou a idéia do determinismo
geográfico: o ambiente
físico condiciona a diversidade
cultural. Atribuíam-se as diferenças
comportamentais observadas entre os povos a diferenças
geográficas: povos habitantes
do hemisfério norte
se comportam diferentemente de povos do hemisfério
sul em razão de características
regionais: um
esquimó é capaz
de distinguir tonalidades
de branco que
os habitantes de uma região das savanas
africanas seriam incapazes de perceber.
Popularizadas por geógrafos,
essas teorias começaram a ser
refutadas nos anos
de 1920. Antropólogos mostraram que havia limites
à influência geográfica
sobre fatores
culturais. Roque de Barros
Laraia afirma que “[...] é possível e comum
existir uma grande
diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico”
(2001, p. 21) e mostra
que, mesmo
vivendo em ambientes
semelhantes no norte
do planeta, sob
um rigoroso inverno, esquimós
e lapões têm comportamentos culturais diferentes: aqueles
constroem casas de gelo
(os iglus), estes
constroem tendas com
peles; quando
querem se mudar, os primeiros
abandonam o iglu, os últimos transportam sua
moradia para
o local a ser
habitado.
Outra explicação
para as diferenças
culturais é a que relaciona capacidades específicas a certas
“raças” ou
certos grupos
humanos. Fundado
no determinismo biológico, tal entendimento
atribui capacidades e habilidades próprias de alguns
seres humanos
à sua origem
genética. Nessa ótica,
acredita-se que os brasileiros
herdaram a preguiça dos índios e a esperteza
dos negros. Pensamentos
assim se traduzem em
atitudes discriminatórias contra certos grupos por causa de características
étnicas. Pode-se pensar aqui
no aumento da xenofobia
e na exclusão social
em algumas sociedades
por causa das
migrações internacionais, que geraram o surgimento
de minorias.
A antropologia
atual explica as diferenças
culturais com base
no conceito de endoculturação: processo de socialização e aprendizagem da cultura ao longo
da vida. Nesses termos,
qualquer pessoa
pode adquirir hábitos
culturais próprios do grupo social a que pertence; por exemplo,
uma pessoa nascida no
Brasil mas criada
na Inglaterra assimilará hábitos, linguagem, crenças
e valores dos ingleses. Dito de outro modo, as pessoas
se comportam diferentemente não por causa de transmissão genética ou do espaço geográfico
onde vivem, mas sim por terem tido diferentes
condições de educação. Assim,
educação e cultura
explicam, em grande
parte, as diferenças
comportamentais entre os humanos. Pela educação, os indivíduos
assimilam diferentes elementos da cultura
e passam a agir segundo
esta.
Como esclarece Laraia (2001), vem de Edward
Burnett Tylor (1832–1917) a primeira
definição de cultura que se aproxima do conceito empregado hoje: cultura é
“[...] todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis,
costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como
membro de uma sociedade” (tylor, 1871 apud laraia, 2001, p. 25). Tylor enfatiza a idéia de aprendizado na sua
definição de cultura, mostrando-a como todo comportamento aprendido, adquirido;
tudo que independe da transmissão hereditária.
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