10 de maio de 2018

Cordel: Morte da Pratinha



A história que vou contar
É a mais pura verdade
Só de lembrar o ocorrido
Me enche de saudade
Eu ainda era menino
Em plena puberdade

Morava numa fazenda
Distrito de Jataí
Referências às abelhas
Que muito tinha ali
A nossa comarca
Era a cidade de Itanhomi
(2)

Cresceu em nossa fazenda
Uma branca novilha
De uma cor muito alva
Só vendo que maravilha
Tínhamos esperança
Que ela tivesse uma filha

O tempo foi passando
Se tornou uma vaca erada
Quando ficava no cio
Retirava ela da manada
Colocava com o melhor touro
Pra não ser incomodada
(3)

Sua prenhes não vinha
Era a grande frustração
Esperava novamente
Uma nova gestação
Com o tempo passando
Mais uma decepção

Era muito dócil
Desde sua nascença
Obedecia voz de comando
De quem estava na presença
Jamais se exaltou
Nesta sua vivência
(4)

Mas, para seu dono
Isso não era suficiente
Uma vaca que só pasta
Não era um bom presente
Todas vacas dando leite
Só ela estava ausente

Uma vaca no pasto
Só tem duas serventia
Uma delas é dar leite
A outra quando cria
Fora isso sua vida
Não é de grande valia
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Meu avô foi irritando
Como era tratada
Já não ficava no pasto
Era sempre mimada
Espiga de milho na boca
Dado pela gurizada

Resolveu ele então
A rês sacrificar
Não podia ter animal
Que não sabia criar
Veterinário não existia
Para a vaca examinar
(6)




(7)

Quando soubemos da notícia
Foi grande a comoção
Muitos ali choraram
Foi de doer o coração
Até mesmo os adultos
Ficaram com aflição

Que se ouvia na fazenda
Eram pedidos de súplicas
Todos com olhares tristes
Naquelas paisagens bucólicas
Enquanto uns não acreditavam
Outros tinham até cólicas
(8)

Foi muito triste o cortejo
Vendo a Pratinha levada
Foi um silêncio inconteste
Ouvindo as patas na estrada
As pessoas seguindo o animal
Com suas bocas fechadas

Nunca vi algo parecido
Com tamanho padecimento
O povo com lágrimas nos olhos
Por aquele acontecimento
Ainda estávamos incrédulos
Que aquele seria o momento
(9)

Mataram a nossa Pratinha
O choro foi geral
Saiam lágrimas dos olhos
Inclusive do animal
Até o seu algoz
Nesse instante sentiu mal

A surpresa estava por vir
Quando abriram sua barriga
A Pratinha estava prenha
Isso causou intriga
Relutou em morrer
Por isso sua briga
(10)

Muitos foram os comentários
Da vaca em gestação
Não faltaram críticas
Até para seu patrão
Como matar um animal
Que tinha bom coração

Voltamos todos pra casa
Com um imenso vazio
Continuamos todos calados
Como uma noite de frio
Indignados com os adultos
Não perceber a vaca no cio
(11)

Durante algum tempo
Não comiam carne vermelha
Com certeza não era boa
Carne de vaca que ajoelha
Em seu último suspiro
Sem grito feito ovelha

Hoje trago na memória
Algumas boas lembranças
Daquela doce Pratinha
Quando éramos crianças
Pois após sua morte
Houve mais tolerância
(12)

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Autor
Antônio Manoel Moreira Campos

Ilustração em Xilogravura
Elisa M.B. Carvalho


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